tinha 23 anos mas parecia menos. conhecia eduardo fazia quase 1 ano. foram ficando, ficando. ao contrário dos outros namorados, com edu acontecia algo novo e misterioso. inexplicável. o tempo a ajudava a gostar mais. a intimidade crescente tornava a relação, a cada dia, mais excitante. sem perceber, moravam juntos. sem perceber, mudaram o eixo da relação. sem perceberam, passaram a se chamar diferente - ela, a mulher, ele, o marido.
os anos foram passando, sem que o casal contasse. não contaram as crises de grana, nem tão pouco as crises de amor. os filhos vieram em três. escadinha. eles se dividiam na educação, nos cuidados, no tempo. distribuíam o amor de forma quase igual, entre os três. mas também sem se dar conta, não trocaram esse amor mais entre eles.
mais alguns anos e estava ela, se sentindo só. um vazio grande, um aperto inesperado. achava que aquele brilho, aquele frio no ventre e aquela súbita boca seca seriam sensações não mais vividas.
numa manhã, acordou novamente só.
não se conformou.
hoje ela vaga por aí e parece que o brilho voltou. a boca seca às vezes. falta só o ventre. mas o frio vai chegar na nova estação.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
o calor da carne
Tudo parecia sob controle. Era divertido. Discutir, questionar, beber, tragar. De espírito livre, relacionava-se. Era prazeroso. No calor da praia, a água quente daquele mar ajudava a aquecer as idéias, enquanto se esforçava para esfriar a pele mergulhando na cerveja gelada, na pinga no gelo. O tempo já não sentia mais. Queria congelar aqueles momentos, esquecer que os anos passam e que levam junto a única qualidade que se orgulhava em ter: o calor em sua carne.
Mas sem se dar conta, não era mais a mesma. Contentava-se em saltar sobre a cama de molas ou vagar sozinha pelos becos, buscando sabe lá o que.
E pensava: quão perigosa pode ser a vida!
saudade.
Mas sem se dar conta, não era mais a mesma. Contentava-se em saltar sobre a cama de molas ou vagar sozinha pelos becos, buscando sabe lá o que.
E pensava: quão perigosa pode ser a vida!
saudade.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
somente só
Se achava sozinha. Pela primeira vez, sozinha. Sozinha tomava o café, aindo cedo da manhã. Sozinha dirigia quilômetros. Sozinha mergulhava em suas escritas. Tão sozinha era, tão sozinha estava, que passou a se acostumar com o "sozinha".
Se sentia feliz. Sozinha, se completava.
Foram longos e férteis momentos que o estar sozinha lhe proporcionaram.
Ao deixar de estar sozinho, não mais se encontrou. A cada dia foi desejando mais aquele passado de isolamente. Até que teve coragem.
Em sua solidão ela vive rodeada.
Se sentia feliz. Sozinha, se completava.
Foram longos e férteis momentos que o estar sozinha lhe proporcionaram.
Ao deixar de estar sozinho, não mais se encontrou. A cada dia foi desejando mais aquele passado de isolamente. Até que teve coragem.
Em sua solidão ela vive rodeada.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
armando carreirão - memória em movimento

Uma homenagem ao agitador cultural de Santa Catarina - Armando Carreirão - é o objetivo do documentário que vai ao ar sábado próximo, dia 22 de agosto, antes do jornal do almoço, no programa SC em Cena, da RBS TV.
Ele e os integrantes do Grupo SUl, queriam "sacudir" uma Florianópolis adormecida...A entrevista de Carreirão, falecido em 2007, concedida a sua neta, Luiza, é o ponto de partida para a criação desse trabalho que pra mim foi instigante.
Que venham mais Carreirões!
terça-feira, 11 de agosto de 2009
nem freira, nem puta...
Mentir, fazia bem. Tinha que conhecê-la muito bem pra sacar quando não era verdade. De súbito, desviava os olhos e franzia levemente a testa. Só. Também já tinha cometido alguns delitos, bem poucos. Mas era muito jovem. Carregava toda a culpa: das mentiras, dos delitos. Culpa maior: falta de interesse pela verdade. A mentira era tão mais interessante! Histórias mirabolantes, amantes tórridos, mergulhos em emoções intensas.
Mas também tinha coisas positivas. Quando jurava um amor, era pra sempre. Quando cativava alguém, alguém a tinha cativado.
E foi assim que seguiu a vida. Não era freira, mas também nada tinha de puta.
Mas também tinha coisas positivas. Quando jurava um amor, era pra sempre. Quando cativava alguém, alguém a tinha cativado.
E foi assim que seguiu a vida. Não era freira, mas também nada tinha de puta.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
meninos e meninas
Tinha tudo de menina - cabelo comprido, saia até o joelho, brincadeira de boneca. Eram 4: Mariana, Carolina, Sabrina e Jéssica.Ficavam na estante de brinquedos. Ela cuidava, quase todo o dia. Mas carregava com ela um sentimento estranho. Não tinha proximidade ou uma mínima sequer vontade de se aproximar das meninas. Já os meninos a encantavam. O jeito de não ter culpa por não tomar banho, de voltar pra classe suado, de arrotar depois de beber coca-cola, de fazer xixi onde bem entender.Da maneira natural e desmedida de verbalizar as "palavras feias e sujas". Delícia. Eram vários seus amigos. No futebol, gostava do ataque, mas tava sempre no gol. Tudo bem. Cedia.
Com o tempo, os meninos começaram a olhá-la de outra maneira. Com o tempo, as menina também. Inventaram-lhe apelidos. Ela não gostou. Chorava escondido. E ainda gostava deles, dos meninos, como amigos. E como meninos. Passado mais tempo ainda, se afastou. Se adaptou.
Hoje ela só tem um amigo.
Com o tempo, os meninos começaram a olhá-la de outra maneira. Com o tempo, as menina também. Inventaram-lhe apelidos. Ela não gostou. Chorava escondido. E ainda gostava deles, dos meninos, como amigos. E como meninos. Passado mais tempo ainda, se afastou. Se adaptou.
Hoje ela só tem um amigo.
segunda-feira, 27 de julho de 2009
casca de ferida
O trem passou e Ariela se assustou. No banco vazio, de súbito, uma guria. Uns 7, 8 anos. Usava uniforme escolar. Ariela olhou pra ela. Ela olhou Ariela, sem encarar, baixando as vistas. As feridas do joelho chamaram a atenção de Ariela. Também os cotovelos esfolados, o arranhado no nariz. Ariela lembrou de seu tempo, de quando também estava sempre em frangalhos. Sentiu uma enxurrada de emoção e até os joelhos arderam, relembrando a celebração de cada casquinha de ferida.
O trem chegou.
A guria se foi, olhando de rabo de olho pra Ariela, que levantou um pouco a saia, tentando mostrar as cicatrizes persistentes nos joelhos.
Nunca mais se viram.
Ano passado, Ariela se foi.
A encontraram no banco da estação. Adormecia. Pra sempre.
O trem chegou.
A guria se foi, olhando de rabo de olho pra Ariela, que levantou um pouco a saia, tentando mostrar as cicatrizes persistentes nos joelhos.
Nunca mais se viram.
Ano passado, Ariela se foi.
A encontraram no banco da estação. Adormecia. Pra sempre.
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