O trem passou e Ariela se assustou. No banco vazio, de súbito, uma guria. Uns 7, 8 anos. Usava uniforme escolar. Ariela olhou pra ela. Ela olhou Ariela, sem encarar, baixando as vistas. As feridas do joelho chamaram a atenção de Ariela. Também os cotovelos esfolados, o arranhado no nariz. Ariela lembrou de seu tempo, de quando também estava sempre em frangalhos. Sentiu uma enxurrada de emoção e até os joelhos arderam, relembrando a celebração de cada casquinha de ferida.
O trem chegou.
A guria se foi, olhando de rabo de olho pra Ariela, que levantou um pouco a saia, tentando mostrar as cicatrizes persistentes nos joelhos.
Nunca mais se viram.
Ano passado, Ariela se foi.
A encontraram no banco da estação. Adormecia. Pra sempre.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Dei uma olhada nos teus textos...e me encantei!
ResponderExcluirQue lindos, Márcia! A começar pelo "QUEM SOU EU", do perfil: é de emocionar.
Fico muito feliz quando encontro pessoas como você...textos como os teus. Beijo grande!