segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mulheres da Terra


Ainda é possível acessar os dois episódios de Mulheres da Terra, documentário filmado no oeste de Santa Catarina, com mulheres agricultoras do Movimento de Mulheres Camponesas. Entre outros objetivos, o Movimento trabalha pelo resgate das sementes crioulas.

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/ResultadoBusca.aspx?uf=2&channel=46&tipo=tag&texto=mulheres_da_terra

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

2010, um novo ano

Em poucas horas um ano novo começaria. "Co-me-ça-ria"...Claudia gostava das possibilidades. Gostava de desenhar seu futuro, imaginar que, de uma hora pra outra, podia mudar o rumo de muita coisa. De outras nem tanto.

Por isso, no último dia do ano resolveu que largaria o emprego de garçonete no café. Estava ali há 1 ano, o chefe gostava dela, os colegas eram médio-simpáticos..ela os chamava assim porque, naquela cidade onde vivia, não era comum esbarrar com gente absolutamente simpática, 100% legal ou minimamente que demonstrasse o sentimento de felicidade. Lhe irritava o jeito velado de opinar. Não comentavam sobre todos os assuntos, tinham medo. Talvez de dizer algo chocante, algo que provocasse polêmica, ou que Claudia discordasse.

E foi assim que Claudia largou o emprego.

Também entregou a casa. Vivia em uma casa de madeira, dessas que um dia foi típica na região, mas que gradativamente foi substituída por mini-prédios de alvenaria grosseira. O bairro foi se descarecterizando, perdendo qualquer identidade. E Claudia também. Gostava do cheiro de maresia , gostava de acordar a noite com os cães do vizinho latindo, da sinfonia matinal dos galos, das brigas de casal da casa em frente, da gata no cio berrando como uma criança em seu telhado. Gostava de coisas que ninguém gostava. Era atraída por aquilo que seus ditos "amigos" consideravam insuportável.

E foi assim que Claudia se livrou do aluguel e da casinha verde e branca, de madeira.

O que faltava para o novo ano?

Claudia pensou.

Ivan era um amigo mais que amigo. Passavam dias de folga juntos. Bebiam vinho, chimarrão, sovavam a massa do pão. Liam livros juntos, cada um uma página, deitados nús na cama, em voz alta. A companhia dele fazia bem a Claudia.
Mas incomodava a Ivan o gosto de Claudia pelo cheiro de marezia, pelos latidos, miados, galos, brigas alheias, e o desgosto de Claudia por alguns de seus amigos.
Claudia dormia vendo cinema iraniano, não entendia bergman, não via revolução no cinema novo. Nunca foi ao Forum Social Mundial, pois era pessimista - pra Claudia, um mundo melhor não era possível.

E foi assim que Claudia pediu a Ivan que não a procurasse mais. Não chorou. E ele também - sequer a olhou nos olhos. Perguntou se tinha alguma outra pessoa. Claudia não entendeu.

Claudia foi até a rodoviária e lá resolveu seu destino. Entrou no ônibus e seguiu. Passou a virada do ano em uma parada de estrada, tomando um café-com-leite açucarado e morno. 2010, agora, começava.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

baixo ventre

tinha 23 anos mas parecia menos. conhecia eduardo fazia quase 1 ano. foram ficando, ficando. ao contrário dos outros namorados, com edu acontecia algo novo e misterioso. inexplicável. o tempo a ajudava a gostar mais. a intimidade crescente tornava a relação, a cada dia, mais excitante. sem perceber, moravam juntos. sem perceber, mudaram o eixo da relação. sem perceberam, passaram a se chamar diferente - ela, a mulher, ele, o marido.

os anos foram passando, sem que o casal contasse. não contaram as crises de grana, nem tão pouco as crises de amor. os filhos vieram em três. escadinha. eles se dividiam na educação, nos cuidados, no tempo. distribuíam o amor de forma quase igual, entre os três. mas também sem se dar conta, não trocaram esse amor mais entre eles.

mais alguns anos e estava ela, se sentindo só. um vazio grande, um aperto inesperado. achava que aquele brilho, aquele frio no ventre e aquela súbita boca seca seriam sensações não mais vividas.

numa manhã, acordou novamente só.
não se conformou.

hoje ela vaga por aí e parece que o brilho voltou. a boca seca às vezes. falta só o ventre. mas o frio vai chegar na nova estação.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

o calor da carne

Tudo parecia sob controle. Era divertido. Discutir, questionar, beber, tragar. De espírito livre, relacionava-se. Era prazeroso. No calor da praia, a água quente daquele mar ajudava a aquecer as idéias, enquanto se esforçava para esfriar a pele mergulhando na cerveja gelada, na pinga no gelo. O tempo já não sentia mais. Queria congelar aqueles momentos, esquecer que os anos passam e que levam junto a única qualidade que se orgulhava em ter: o calor em sua carne.

Mas sem se dar conta, não era mais a mesma. Contentava-se em saltar sobre a cama de molas ou vagar sozinha pelos becos, buscando sabe lá o que.

E pensava: quão perigosa pode ser a vida!

saudade.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

somente só

Se achava sozinha. Pela primeira vez, sozinha. Sozinha tomava o café, aindo cedo da manhã. Sozinha dirigia quilômetros. Sozinha mergulhava em suas escritas. Tão sozinha era, tão sozinha estava, que passou a se acostumar com o "sozinha".
Se sentia feliz. Sozinha, se completava.
Foram longos e férteis momentos que o estar sozinha lhe proporcionaram.
Ao deixar de estar sozinho, não mais se encontrou. A cada dia foi desejando mais aquele passado de isolamente. Até que teve coragem.
Em sua solidão ela vive rodeada.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

armando carreirão - memória em movimento


Uma homenagem ao agitador cultural de Santa Catarina - Armando Carreirão - é o objetivo do documentário que vai ao ar sábado próximo, dia 22 de agosto, antes do jornal do almoço, no programa SC em Cena, da RBS TV.
Ele e os integrantes do Grupo SUl, queriam "sacudir" uma Florianópolis adormecida...A entrevista de Carreirão, falecido em 2007, concedida a sua neta, Luiza, é o ponto de partida para a criação desse trabalho que pra mim foi instigante.
Que venham mais Carreirões!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

nem freira, nem puta...

Mentir, fazia bem. Tinha que conhecê-la muito bem pra sacar quando não era verdade. De súbito, desviava os olhos e franzia levemente a testa. Só. Também já tinha cometido alguns delitos, bem poucos. Mas era muito jovem. Carregava toda a culpa: das mentiras, dos delitos. Culpa maior: falta de interesse pela verdade. A mentira era tão mais interessante! Histórias mirabolantes, amantes tórridos, mergulhos em emoções intensas.

Mas também tinha coisas positivas. Quando jurava um amor, era pra sempre. Quando cativava alguém, alguém a tinha cativado.

E foi assim que seguiu a vida. Não era freira, mas também nada tinha de puta.